junho 25, 2008

Timóteo

As mãos firmes ao volante, associada a voz doce, não me chamaram a atenção hoje a noite, quando entrei em um táxi, na Santo Amaro. Disse: Alameda Lorena, por favor, e continuei falando no celular. Minutos depois desliguei e o ouvi traçando o caminho, imaginariamente.

De repente, entro em uma grande avenida. Um trajeto que ainda não havia feito de volta para casa. Pergunto: - Em que bairro estamos?

Ele responde: - No Jardim Paulista. Seu bairro. Estamos na Brigadeiro Luiz Antônio. Minha tia tinha uma casa logo ali. Era a 3.439. Eles mudaram as numerações, mas eu me lembro direitinho onde fica. Essa rua era tão diferente. Estreita. Coberta de verde.

Olhei para ele e perguntei: - Faz quantos anos isso?

Ele: - Uns 50.

De repente, ele pára o carro em frente a um estabelecimento comercial e indica a então casa de sua tia. “Vinha de Santos para ficar aqui com ela”, relembrou, sem dar muita importância aos motoristas que insistiam buzinar devido ao seu estilo “peculiar” para conduzir o táxi.

Questiono então: - Como é o seu nome?

Ele disse: - Timóteo, emendando. “Chega essa hora todo mundo fica querendo chegar em casa. Está todo mundo cansado, por isso, buzinam”.

Retruco: - Mas o senhor não está cansado? Já está parando?

Com um sorriso no rosto, ele diz que sim. “Já estou parando”, me assegura.

Sr. Timóteo, desculpe perguntar, mas estou curiosa: - Quantos anos o senhor tem?

Ele riu e rebateu meu questionamento: - Quantos anos você acha que eu tenho?

Disse: - Uns 60 e pouco.

Rindo ele falou: - Você é muito boazinha. Faço 77 anos, no dia 1º de julho.

E há quantos anos o senhor é taxista? Uns 50, me informou, já em frente ao meu prédio.

Rapidamente, quero saber: - Quanto deu?

Timóteo disse: - R$ 13,40, mas R$ 10 está bom.

“Imagina, sr. Timóteo. Faço questão de pagar o valor correto”, digo.

Ele fala: - Eu faço questão de cobrar R$ 10. Você parou comigo em frente a casa da minha tia. Me fez lembrar do meu tempo bom da juventude. De quando eu saía de Santos e vinha para cá. “Dez reais, menina”, reiterou.

Eu disse: - Tudo bem.

Saí emocionada do táxi ao perceber que - mesmo em uma metrópole como São Paulo - existem pessoas como o sr. Timóteo. Um brasileiro que trabalha há 50 anos e, as vésperas de completar 77 anos, não se entrega a idade. Muito menos ao mau humor dos motoristas paulistanos. Elegantemente, ele coloca o chapéu em sua cabeça e guia seu táxi, pelas avenidas que um dia foram vielas. Pelos cantos da cidade grande, que estão gravados em sua memória como recordações dos bons e velhos tempos de sua juventude.

Eita, sr. Timóteo! Difícil encontrar uma pessoa assim. Por isso que eu sempre digo e repito: “Continuo acreditando nas pessoas”. E assim sempre será!

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