c u l t u r a - c o n s u m o - e - i d e n t i d a d e
Mais um texto da pós.
Na verdade, uma resenha do trabalho apresentando por mim e pelo André Sodré, na aula de ontem, da Ana Paula Poll.
A quem interessar possa, boa leitura!
‘Ensaboa mulata, ensaboa...’
Sistemas de classificação e princípios culturais são materializados, de acordo com limites sociais, históricos e geográficos
“Sabão pedacinho assim. Olha água, um pinguinho assim. Do tanque, um tanquinho assim. A roupa um tantão assim”. A conhecida estrofe da música de Marisa Monte define bem o estudo de Lívia Barbosa, com relação à lavagem de roupas no Brasil. Um simples hábito doméstico que teve o seu perfil traçado em “Cultura, Consumo e Identidade”.
Perfil que revela a cultura de lavar roupa, tanto de mulheres que vivem no Nordeste do país, passando por aquelas que ganham à vida lavando roupa e chegando a aquelas que têm alguém para lavar suas roupas. Mas o fato é: todas querem roupas limpas e cheirosas para vestir. Trata-se de um hábito. Hábito por vezes passado por gerações.
Sim. Quantas mulheres, por exemplo, não lavam suas roupas íntimas debaixo do chuveiro? Se perguntarem-lhes talvez elas não saibam responder o porquê ou quem sabe a resposta seja: “aprendi com a minha a mãe”. O simples fato de verem suas mães praticarem tais hábitos, faz com que ele se perpetue entre gerações.
Entendendo isso, Lívia Barbosa foi a campo entender o que a ação de utilizar o sabão em pó e água representa na vida das mulheres brasileiras. No nordeste, conforme ela, muitas utilizam ainda as mãos para lavar suas peças e orgulham-se disso. Já em grandes em centros urbanos como Rio e São Paulo, a vedete é a máquina de lavar roupa e a terceirização de quem lava a roupa da classe média, neste caso, as conhecidas empregadas domésticas.
Nesta lacuna sócio-cultural, que a roupa tem que estar sempre cheirosa e limpa, seja no Rio de Janeiro ou no interior do Ceará, que o mercado investiu. Atender todas as mulheres. Todas as suas necessidades, no quesito lavar roupa.
Para identificar isso, não é preciso ir muito longe, basta olhar nas prateleiras de qualquer supermercado: já é possível encontrar sabão em pó de tudo quanto jeito, marca e tipo. Alguns são destinados apenas para roupas brancas, outros apenas para roupas coloridas, outros para retirar manchas ou, simplesmente, para amaciá-las (dispensando o uso do amaciante). Atualmente existem até sabão em pó destinado para roupas delicadas, como peças íntimas e roupas de bebê.
Portanto, o mercado entendeu que a cultura de lavar a roupa, pode estar associada ao consumo do novo tipo de sabão em pó que garantirá mais limpeza seja a peça branca ou colorida, justamente porque cada uma de suas consumidoras possui identidade própria, cada qual com seus anseios e expectativas.
Hoje a mulher que lava roupa no interior do Ceará ainda não tem a preocupação de comprar um sabão em pó para roupas brancas, ela ainda prefere quarar a roupa no sol, mas a mulher que vive no Rio de Janeiro compra o sabão em pó para a roupa branca, pois ela quer garantir, além da limpeza, a integridade daquela peça – conforme as instruções da etiqueta da roupa.
Lívia Barbosa ao concluir seu estudo afirma que são, justamente, essas diferenças culturais que garantem o “sucesso que as empresas de produtos pessoais têm no Brasil”. E de fato é verdade. A “Cultura material faz a cultura material”, materializa sistemas de classificação e princípios culturais dentro de certos limites sociais, históricos e geográficos.