Quem sou eu para mim?
Só uma sensação minha
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Marcinha, que trabalha comigo na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Resende, já há algum tempo disse que me apresentaria Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro ou, simplesmente, os heterônimos de Pessoa. Pois bem. Maçaroca - a prima da Voçoroca (rs) - é uma moça que cumpre com sua palavra e me enviou um e-mail hoje com os estilos de Fernando Pessoa. Eu que já gostava da poesia desse português, fiquei encantada com todas as possibilidades de ser quem quiser ser em apenas um ser.
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Já que os conheci e ainda não consegui eleger o Pessoa que mais gosto, apresento a vocês, leitores do Sorrisos Plásticos, um pouco de cada heterônimo, pois poesia faz bem ao coração.
Fernando Pessoa como ele mesmo
Confuso com seus heterônimos que parecem ter vida própria, além da sua vontade.
“Não sei quantas almas tenho
A cada momento mudei
Continuamente me estranho
Nunca me vi nem achei
De tanto ser, só tenho alma
Quem tem alma não tem calma
Quem vê é só o que vê
Quem sente não é quem é
Atento ao que sou e vejo
Torno-me ele e não eu
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu
Sou minha própria paisagem
Diverso, móbil e só
Não sei sentir-me onde estou
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas meu ser
O que segue, não prevendo
O que passou a esquecer
Noto à margem do que li
O que julguei que senti
Releio e digo: fui eu?
Deus sabe, porque o escreveu”.
Fernando Pessoa como Ricardo Reis
O poeta romântico e pragmático ao mesmo tempo.
“Segue o teu destino
Rega as tuas plantas
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Vive simplesmente.
Deixa a dor na aras
Como ex-votos aos deuses.
Vê de longe a vida,
Nunca interrogues.
Ela nada pode dizer-te.
A resposta está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não pensam”.
Fernando Pessoa como Álvaro de Campos
O heterônimo mais emotivo e revoltado.
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada
Todos os meus conhecidos têm sito campeões em tudo
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil
Eu, tantas vezes irrespondivelmente parasita
Indesculpavelmente sujo
Eu que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante
Que tenho sofrido enxovalhos e me calado
E que quando não tenho calado tenho sido mais ridículo ainda
Eu que tenho sido cômico às criadas de hotel
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos de moços dos fretes
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras
Pedido emprestado sem pagar
Eu que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado para fora da possibilidade do soco
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas
Eu verifico que não tenho par nisso tudo neste mundo
Toda a gente que eu não conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia
Que contasse não uma violência, mas uma cobardia!
Não! São todos o ideal se os oiço e me falam
Quem há, neste largo mundo, que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos!
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não o terem amado
Podem ter sido traídos, mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil.
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza!”
Fernando Pessoa como Alberto Caeiro
O poeta filósofo, pensador - o mais leve de todos os heterônimos criados por ele.
“Se eu morrer novo,
Sem poder publicar livro nenhum
Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa
Peço que, se quiserem ralar por minha causa
Que não se ralem.
Se assim aconteceu, assim está certo.
Mesmo que meus versos nunca sejam impressos
Eles lá terão a sua beleza, se forem belos.
Se eu morrer muito novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava
Fui gentio como o sol e a água
Deu uma religião universal que só os homens não têm
Fui feliz porque não pedi coisa nenhuma
Nem procurei achar nada
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum
Não desejei senão estar ao sol ou à chuva
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(e nunca outra coisa)
Sentir calor e frio e vento
E não ir mais longe
Sentir pe estar distraído
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia
Não há nada mais simples
Tem só duas datas: a da minha nascença e a da minha morte
Entre uma coisa e outra, todos os dias são meus
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança
Fechei os olhos e dormi
Além disso, fui o único poeta da natureza”.
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Já que os conheci e ainda não consegui eleger o Pessoa que mais gosto, apresento a vocês, leitores do Sorrisos Plásticos, um pouco de cada heterônimo, pois poesia faz bem ao coração.
Fernando Pessoa como ele mesmo
Confuso com seus heterônimos que parecem ter vida própria, além da sua vontade.
“Não sei quantas almas tenho
A cada momento mudei
Continuamente me estranho
Nunca me vi nem achei
De tanto ser, só tenho alma
Quem tem alma não tem calma
Quem vê é só o que vê
Quem sente não é quem é
Atento ao que sou e vejo
Torno-me ele e não eu
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu
Sou minha própria paisagem
Diverso, móbil e só
Não sei sentir-me onde estou
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas meu ser
O que segue, não prevendo
O que passou a esquecer
Noto à margem do que li
O que julguei que senti
Releio e digo: fui eu?
Deus sabe, porque o escreveu”.
Fernando Pessoa como Ricardo Reis
O poeta romântico e pragmático ao mesmo tempo.
“Segue o teu destino
Rega as tuas plantas
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Vive simplesmente.
Deixa a dor na aras
Como ex-votos aos deuses.
Vê de longe a vida,
Nunca interrogues.
Ela nada pode dizer-te.
A resposta está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não pensam”.
Fernando Pessoa como Álvaro de Campos
O heterônimo mais emotivo e revoltado.
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada
Todos os meus conhecidos têm sito campeões em tudo
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil
Eu, tantas vezes irrespondivelmente parasita
Indesculpavelmente sujo
Eu que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante
Que tenho sofrido enxovalhos e me calado
E que quando não tenho calado tenho sido mais ridículo ainda
Eu que tenho sido cômico às criadas de hotel
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos de moços dos fretes
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras
Pedido emprestado sem pagar
Eu que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado para fora da possibilidade do soco
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas
Eu verifico que não tenho par nisso tudo neste mundo
Toda a gente que eu não conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia
Que contasse não uma violência, mas uma cobardia!
Não! São todos o ideal se os oiço e me falam
Quem há, neste largo mundo, que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos!
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não o terem amado
Podem ter sido traídos, mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil.
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza!”
Fernando Pessoa como Alberto Caeiro
O poeta filósofo, pensador - o mais leve de todos os heterônimos criados por ele.
“Se eu morrer novo,
Sem poder publicar livro nenhum
Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa
Peço que, se quiserem ralar por minha causa
Que não se ralem.
Se assim aconteceu, assim está certo.
Mesmo que meus versos nunca sejam impressos
Eles lá terão a sua beleza, se forem belos.
Se eu morrer muito novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava
Fui gentio como o sol e a água
Deu uma religião universal que só os homens não têm
Fui feliz porque não pedi coisa nenhuma
Nem procurei achar nada
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum
Não desejei senão estar ao sol ou à chuva
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(e nunca outra coisa)
Sentir calor e frio e vento
E não ir mais longe
Sentir pe estar distraído
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia
Não há nada mais simples
Tem só duas datas: a da minha nascença e a da minha morte
Entre uma coisa e outra, todos os dias são meus
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança
Fechei os olhos e dormi
Além disso, fui o único poeta da natureza”.
- pensando bem, acho que gosto de Pessoa como ele mesmo -
Pessoa como ele mesmo
“Desenganemo-nos da esperança, porque trai
Do amor, porque cansa
Da vida, porque farta e não sacia
E até da morte, porque traz mais do que se quer e menos do que se espera.
Desenganemo-nos do nosso próprio tédio, porque envelhece de si próprio e não ousa ser toda a angústia que é.
Não choremos, não odiemos, não desejemos...
Cubramos, ó silenciosa, com um lençol de linho fino o perfil hirto da nossa imperfeição...”
Um comentário:
Pessoa! Pessoa! Pessoa!
Não vivo sem ele.
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