Vaidade, luxo ou jornalismo?
É possível medir o marasmo no jornalismo brasileiro? Marcelo – um dos cinco leitores deste blog – disse no comentário do post abaixo, que sim. Nove anos, na opinião dele, seriam suficientes para estabelecer um prazo de validade em furos de reportagem, especialmente, as de cunho social – que durante muito tempo, tempo de Joel Silveira e Zé Hamilton, configuraram em nosso cenário.
É possível medir o marasmo no jornalismo brasileiro? Marcelo – um dos cinco leitores deste blog – disse no comentário do post abaixo, que sim. Nove anos, na opinião dele, seriam suficientes para estabelecer um prazo de validade em furos de reportagem, especialmente, as de cunho social – que durante muito tempo, tempo de Joel Silveira e Zé Hamilton, configuraram em nosso cenário.
Pois bem.
Cheguei a citar o furo de reportagem, conquistado em 1998, pelos jornalistas Maria Elisa Alves e Rolland Gianotti - que juntos com a equipe de O Globo denunciaram na série de reportagens intitulada “Teste do Guaraná”, que um grande número de laboratórios de análises clínicas estava despreparado para diferenciar um frasco de urina de um outro contendo guaraná. A confusão resultou na emissão de laudos absolutamente falsos por quatorze laboratórios de diversos pontos da cidade, o que desencadeou uma série de investigações da Vigilância Sanitária.
Pois bem. Não adiantou. Marcelo ainda acredita que a dupla de jornalistas foram “presos pela vaidade do furo”. Pois bem. Eu respeito a sua opinião. Mas ainda penso contrário. Não trata-se de vaidade, mas sim, de fazer valer o que ainda poucos jornalistas pensam sobre o exercício do jornalismo.
Mas realmente Marcelo está certo quando fala de cunho social. Hoje em dia, no Brasil, é mais fácil conseguir um furo de reportagem no meio político, do que na fila do SUS. Se bem, que neste caso, uma coisa estaria ligada intimamente à outra... Para entender melhor essa questão de furo de reportagem versus cunho social, nos dias de hoje, resolvi dar uma zapeada pela rede e saber quem levou o Prêmio Esso de jornalismo nos últimos seis anos e, de seis prêmios, cinco são sobre política. Que vão desde o caso do ex-senador Luiz Estevão, em 2001, até o Mensalão, em 2005.
Marcelo quase acertou quando falou que “quase uma década é um tempo expressivo para tanto marasmo em nosso metiér”. Quase, porque no ano passado quem levou o Prêmio Esso foi à jornalista Conceição Freitas, do jornal Correio Braziliense, com o trabalho “Amores Possíveis”, no qual relata dez histórias de amor sobre o relacionamento entre pessoas portadoras de deficiências, socialmente apartadas ou simplesmente incomuns, como cegos, surdos, mudos, pacientes de clínica psiquiátrica, prisioneiros e mendigos, entre outras. A reportagem leva inevitavelmente a uma reflexão sobre como o amor entre as pessoas pode superar dificuldades aparentemente intransponíveis e diferenças de todas as espécies.
Pois bem.
Ainda existem colegas de profissão que acreditam que por trás da vaidade de um furo de reportagem existe uma recompensa maior. Utópico? Talvez seja. Mas com cinco anos como jornalista, ainda posso me dar a esse luxo e acreditar em um jornalismo comprometido com a verdade. Se eu já fizer a minha parte, já valeu a pena.
Um comentário:
"A grande reportagem morreu? Não! Apenas pode ter mudado de endereço"
É assim que começa o livro das Grandes Reportagens, escrito por autores contemporâneos nossos, como por exemplo William Waack que entrevistou nada mais, nada menos do que o líder da revolução iraniana, o Aiatolá Khomeini.
E a invés de serem publicados em revistas e jornais a grande reportagem é publicada em livros.
Outra pergunta do livro: "Quem disse que não existe leitores para este tipo de conteúdo" - a resposta é: Existe sim. E um público ávido por isso.
Vale a pena. Comprei o livro ontem:
http://www.siciliano.com.br/livro.asp?tema=2&tipo=2&clsprd=L&id=926559&orn=BDM
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