Tinta fresca. O cheiro do amarelo vivo das estantes e portas recém-pintadas atestam a juventude da redação da Brasileiros, revista lançada nesta segunda-feira com proposta editorial diferenciada. Capitaneada por Hélio Campos Mello, Nirlando Beirão e Ricardo Kotscho, a revista pretende construir textos baseados em personagens, brasileiros, oferecendo liberdade de forma para seus repórteres.
A revista quer trazer histórias bem contadas, acompanhadas de fotos de qualidade, incentivando o trabalho de campo da dupla repórter/fotógrafo. A criatividade individual não só é valorizada como é estimulada; é a diagramação e a edição da revista que se moldam aos textos e não o contrário. Mas isso não quer dizer que as matérias serão enormes. O diretor de redação, Campos Mello, entende que algumas histórias devem ser contadas em uma página e outras em 20. O bom senso e a técnica devem ser a baliza de cada redator.
Quarenta e dois mil duzentos e vinte e oito toques fazem a matéria de capa da primeira edição. O texto versa sobre preconceito, que não é um personagem físico, mas um conceito amplo presente no dia-a-dia de todos os brasileiros. Foi escrito por Chico Silva, freelancer, e se baseia numa pesquisa do Ibope para mostrar que os brasileiros começam a assumir seu preconceito, como a negra que não gosta de nigerianos ou o homossexual que tem aversão a travestis.
A redação conta também com os editores/repórteres Alex Branco, Lucy Ayala e Thiago Lotufo e com as estagiárias Luiza Sigulem e Mariana Nadai. O restante das páginas será preenchido por colaboradores freelancers de todo o País, obedecendo à proposta da revista de buscar brasileiros com histórias interessantes além do eixo RJ-SP-DF.
Jurássicos e focas
Sobre a mesa do diretor de redação repousa um Tiranossauro de plástico branco e roxo. Ele mesmo comprou o brinquedo, referência aos cabelos brancos e décadas de jornalismo que acumula. Alex, Lucy, Nirlando e Kotscho também ostentam alguns fios grisalhos, ao passo que os cabelos de Thiago, Luiza e Mariana ainda têm apenas uma cor.
Buscando uma postura textual inovadora, Brasileiros deliberadamente funde o ímpeto e a criatividade da juventude com a experiência dos mais velhos. A redação é horizontal, todos têm o direito e o dever de opinar sobre os rumos da revista. Diz Campos Mello: “A hierarquia deve funcionar para o barco andar, não pelo prazer da hierarquia. A redação é feita de palpites, todo mundo tem que dar palpites indiscriminadamente”.
Uma lenda quase viva
Beirão e Kotscho, diretores adjuntos, compartilham essa linha de pensamento e também o bom humor do diretor de redação. Uma das primeiras lições passadas para a estagiária Mariana Nadai ocorreu em seu primeiro dia de batente. Estava ela sentada ao lado de Kotscho quando passou Campos Mello e questionou: "E então, como você se sente trabalhando ao lado de uma lenda viva, ou melhor, quase viva, do jornalismo brasileiro?". Tudo entre amigos.
Misto da euforia de uma publicação nascente e da postura pessoal de seus membros, principalmente de sua direção, é possível sentir no ar (junto com o cheiro de tinta fresca) o bom humor da redação que avalia a possibilidade de incluir consultoria geriátrica em seu expediente. "Uma revista, como qualquer outro projeto, é um concentrador de estresse, então quanto menos você piorar isso, melhor. Não precisa ser irresponsável para ser bem humorado", avalia o diretor de redação.
O bom velho new journalism
Sem a Realidade, o jornalismo brasileiro passou décadas lamentando a ausência de um espaço voltado para o exercício profissional do estilo que ainda pode ser chamado de new journalism. Agora, em menos de um ano, duas publicações, Brasileiros e Piauí, surgem com a proposta de oferecer textos mais trabalhados, autorais, para seus leitores. As páginas da história da imprensa brasileira bem que andam precisando de um pouco de tinta fresca.
(( ainda trabalho em um lugar assim, um dia ))
2 comentários:
é seu esse texto?
Não. O texto é do Comunique-se, pq?
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